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Modernidade, dependência e por que eu não uso o Tinder

Inicialmente, a ideia parece ótima: um aplicativo que te oferece ao toque do dedo um cardápio humano, selecionando, de acordo com seu gênero-alvo, possíveis parceiros sexuais e/ou amorosos. Inovador! Sem sair de casa, é como se você estivesse na balada e pudesse interagir com todas as pessoas que quisesse - caso elas quisessem também, princípio fundamental do aplicativo, que deveria ser princípio fundamental da vida - e decidir, já depois de um tempo de conversa, quem quer ver de novo, quando e como. Aí é que está, para mim, o problema. Por que não procurar, de fato, então, a experiência real, ao invés do substituto tecnológico da interação? Por que apelar a um aplicativo para falsear uma interação que poderia ocorrer mais naturalmente no dia a dia, através do olhar, da voz, do rosto verdadeiro (e não da fotografia de perfil)? Porque essa experiência, na vida real, é frustrada. As pessoas interagem cada vez menos fisicamente. Eu digo isso baseada apenas na minha percepção individ...

O literal rio de lixo

Os moradores da Rua do Gás, no Vale das Pedrinhas, favela bastante conhecida em Salvador, enfrentam diariamente um problema bastante complicado: por não haver acondicionamento correto do lixo - aliás, por não haver qualquer cuidado de disposição em relação ao lixo - a rua transforma-se em um depósito de chorume e restos de lixo, que impede a locomoção e perturba a vida de todos os habitantes dali. Essa situação fica agravada em dias chuvosos: a água espalha o lixo mas não o escoa, por ser principalmente sólido. A favela inunda como uma Veneza nada turística e muito menos bela. Foi exatamente isso que aconteceu durante o Carnaval de 2014. Enquanto Salvador comemorava sua festa mais tradicional, regada pela segregação social e por muito dinheiro público bem aplicado em cultura, a população do Vale das Pedrinhas não conseguia voltar para casa, e a festa daqueles que mais fazem parte dela - os próprios soteropolitanos - ficou comprometida, arruinada (a notícia muito breve que apare...

A dor que cabeça que não sara

"Se eu te achei linda de cachecol, imagina o que os caras não devem dizer pra você nesse verão, você de shortinhos". Pronto. Foi o suficiente para a minha paciência, que já estava curta graças à insistência inconveniente do cara que acabou me dizendo isso, estourar. Eu não só me senti um pedaço de carne, mas um daquelas bem baratas - já que os caras, todos, todos eles, devem dizer isso aí pra mim toda hora. Foi o estopim para um esculacho virtual, via Whatsapp, que - espero eu - terminou com uma série de conversas pseudo-românticas mas com um cunho de objetivação enorme. A mulher é vista como um produto a ser consumido e que, portanto, deve satisfazer necessidades e vontades do consumidor, doravante o homem. Nesse caso, como a vontade do homem era ter à disposição pernas e coxas fartas para olhar (e quem sabe dar aquela encoxadinha disfarçada no metrô), a requisição foi bem objetiva: gosto do verão porque as mulheres usam shortinhos. Não porque estão com calor. Nã...

Novos velhos amigos

Engraçado como a inspiração bate quando a gente tem coisa pra fazer, né. E hoje, o que eu tenho pra fazer é coisa boa, é ajudar uma amiga revisando um texto dela (e ela ainda vai me pagar por isso). Mesmo assim, cheirou à obrigação, a gente se inspira pra escrever, compor e até limpar o quarto. Milagres que o vício da procrastinação traz consigo. O caso é que, pensando nessa amiga que vou ajudar, fiquei refletindo sobre todas as minhas amizades. E esse pensamento não é só de hoje; foi vindo com pequenos momentos cotidianos que foram despertando em mim uma mistura de saudade e nostalgia ingrata. Ontem, por exemplo, fui criar um grupo de amigo secreto virtual para minha recente turma de amigos aqui de Lisboa, onde estou morando. Eu  já tinha uma conta no site que faz o sorteio, mas não lembrava a senha. Mandei-a para o meu e-mail, e a lembrança apertou o peito: era uma senha relacionada aos meus amigos que participaram do último amigo secreto que fiz por esse site, amigos que hoje ...

Vende-se o controle da vida (e um Fiat UNO 1995)

É incrível como os sentimentos e sensações mudam de uma semana para outra, de um dia, um instante para o outro. Eu me encontro num momento de altos e baixos, e parece que não consigo controlar mais o que sinto, e nem mesmo a mim. Um amigo me disse esses dias: "não bebo porque nosso corpo e mente são as únicas coisas que conseguimos controlar no mundo, e a bebida tira esse poder do homem". Discordo. Não que defenda o uso do álcool, mas é que o motivo pelo qual ele não usa não bate com a realidade que eu enxergo: não, não controlamos. Quanto ao corpo, o descontrole é tamanho que podemos morrer a qualquer momento. "Para morrer, basta estar vivo". Você controla seu corpo? Tente espirrar de olhos abertos, lamber o cotovelo, ficar uma semana sem ir ao banheiro e veja quem controla quem. Aliás, quem é esse "quem" que controla o corpo? A mente? Essa aí já era. Você controla sua mente? NÃO PENSE EM UM URSO BRANCO. Pensou... Na hora. Quem pensa que domina corpo e ...

Cê parece um anjo, só que não tem asas...

Imaginei hoje uma vida que fosse diferente. Qual o sentido desta busca insana pelo sucesso? O trabalho consome a alma, e o que deixa são restos, praticamente insuficientes para que a vida em si seja vivida. Já diziam os conformados: "não existe trabalho ruim. Ruim é ter que trabalhar". De fato, mas trabalhar em busca de que? Alguns sonhos consumíveis ou comestíveis são compráveis também, fúteis ou não, mas alimentam as esperanças da batalha daqueles que dão um tímido sorriso no dia 5. E choram já no dia 15, quando assinam o papel-cebola, mas do salário mesmo só resta a sombra. Não é fácil: cobrança, ritmo, animação, pontualidade, responsabilidade, autonomia, autoridade, conhecimentos avançados, e... Muito mais. Porque as cobranças da vida vão progredindo, mas nem sempre é possível chegar lá sem dor. Aliás, é quase impossível. É como um aluno novo na academia. No começo, a dor é intensa e os exercícios não chegam à perfeição que os outros alunos conseguem alcançar. Com os...
Digitava tranquilamente algumas ideias sobre sintaxe. Pensava, nerd que sou, nas relações axiomáticas entre sintagmas nominais e verbais. Meu coração não estava aqui, estava longe, longe... Mas a cabeça, concentrada, tentava fugir das obrigações tantas do trabalho. Foi quando a campainha tocou. "Ué", pensei. Não espero ninguém, literalmente e figurativamente. Há algum tempo que não espero ninguém. "Quem será?" Era ele... MEU CUBO MÁGICO CHEGOU DA CHINA!!!!!!!!!! http://cube4you.com/cube4you-3x3x3-speed-cube-nib-black-p-337.html Escrevo, e percebo que não sei mais escrever. Não como antes.