Vende-se o controle da vida (e um Fiat UNO 1995)

É incrível como os sentimentos e sensações mudam de uma semana para outra, de um dia, um instante para o outro. Eu me encontro num momento de altos e baixos, e parece que não consigo controlar mais o que sinto, e nem mesmo a mim. Um amigo me disse esses dias: "não bebo porque nosso corpo e mente são as únicas coisas que conseguimos controlar no mundo, e a bebida tira esse poder do homem". Discordo. Não que defenda o uso do álcool, mas é que o motivo pelo qual ele não usa não bate com a realidade que eu enxergo: não, não controlamos.
Quanto ao corpo, o descontrole é tamanho que podemos morrer a qualquer momento. "Para morrer, basta estar vivo". Você controla seu corpo? Tente espirrar de olhos abertos, lamber o cotovelo, ficar uma semana sem ir ao banheiro e veja quem controla quem. Aliás, quem é esse "quem" que controla o corpo? A mente? Essa aí já era. Você controla sua mente? NÃO PENSE EM UM URSO BRANCO. Pensou... Na hora.
Quem pensa que domina corpo e mente ignora, ainda, a alma. Quantos segredos e mistérios a envolve, quantos elementos que estão entre o céu e a terra e que nossa vã filosofia, seguindo um dos clichês mais bonitos que existem, pouco desconfia.
Na verdade, não controlamos nada. Pensamos que temos mais ou menos as rédeas da situação, mas nos apaixonamos fácil, nos decepcionamos idiotamente mesmo quando já esperávamos as piores atitudes vindas daquela pessoa, choramos ao ver filme da Disney, temos ciúme de DM no twitter. Somos fracos seres humanos, incapazes, impotentes, que não conseguem nem mesmo prever o dia da morte, muito menos a qualidade de vida que terão até lá, por mais exercício físico que façam. Quem pode prever uma bala perdida? Um atropelamento? Um acidente de trânsito.
Hoje acordei meio pessimista, meio desiludida. Pensando nisso tudo, será que adianta essa bola na garganta que me impede de falar? Não consigo controlar meus pensamentos, meus desejos, não consigo deixar de ter rinite alérgica quando entro em um quarto fechado. Não consigo forçar meu corpo por mais tempo quando atinjo a exaustão e nem consigo ficar feliz, sem motivo, para transformar o ódio que sinto.
Se dizem que o ódio está próximo do amor, bem que podiam se confundir e serem os mesmos, porque quando a raiva consome e a garganta arde, fica difícil resolver os problemas mais cotidianos. Eu gostaria de seguir a filosofia McFlaica e pensar "everyone has got troubles, that's the way the story goes... but just remember to smile smile smile and turn the world around". Podia ser, mas não é. De que adianta forçar um sorriso amarelo - isso eu posso controlar no corpo - se ele não significa nada? Não é falta de saúde, não é desamor, não é falta de dinheiro, não é nenhuma necessidade básica, nem briga, nem nada. É a solidão. O vazio mais profundo, mais íntimo, mais absoluto em seu cross fox, que eu já senti em toda a minha vida. É ver ruir o porto seguro, ver antigas cadeiras cativas serem destituídas pela inveja, falsidade... É pensar que não importa o quanto eu me esforce eu não controlo nada nem ninguém, não prevejo nada, sou apenas uma mortal idiota que pensa que pode resolver alguma coisa.
E não pode, e nem nunca poderá resolver nada. Se nem meu carro eu consigo arrumar!
Quem dirá minha vida, descontrolada, desequilibrada. Como diria Dr. Bacamarte, o Alienista de Machado de Assis, "a razão é o equilíbrio perfeito entre todas as faculdades da mente e do espírito". Segundo essa teoria, eu deveria ser confinada imediatamente na Casa Verde, pois desço do salto e desisto do cargo de animal racional.

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